Às vezes nós conversamos com amigos sobre uma série de coisas que qualquer um poderia conversar em um lugar público. Às vezes não conversamos sobre nada – apenas fazemos contatos. E às vezes fazemos um contato que se transforma em uma verdadeira conversa, e possivelmente em uma amizade.
    

Para muitos de nós, poder conversar com pessoas de outros lugares e aprender alguma coisa sobre elas é o que nos atraiu primeiramente para o Radioamadorismo e ainda é a parte mais gratificante. Houve um tempo em que aproveitamos o “monopólio virtual” deste tipo de comunicação. As ligações internacionais eram muito caras e você nunca conheceria um estranho desta maneira. Você poderia se comunicar com um “pen pal” (amigo por correspondência), mas demoraria semanas para trocar idéias por cartas. Poucas pessoas podiam se dar ao luxo de dispor de tempo e dinheiro para viajar a lugares distantes no mundo, e alguns lugares estavam totalmente fora dos limites – mas radioamadores podiam e regularmente quebravam a cortina de aço.

    
Hoje em dia a internet provê uma oportunidade similar para bilhões de pessoas, mas – mesmo colocando a mágica do rádio de lado – ainda há algo de especial em poder fazê-lo sem pagar por uma conexão e sem ter que enfrentar os spams, identidades falsas, e tantos outros problemas do mundo “online”. O Rádioamadorismo certamente tem seus próprios problemas, mas quando encontramos outro rádioamador no ar ou em pessoa, nós podemos de certo modo confiar no fato de que temos alguns interesses, experiências e valores em comum.

    
De fato, nós perdemos muitas oportunidades de ir além de apenas “fazer um contato”. Ouvindo as frequências licenciadas, seja no fone ou na telegrafia, o observador casual pode chegar à conclusão de que não há muito conteúdo na nossa conversação. Você pode achar que isso é uma coisa recente, trazida pela velocidade frenética do século 21, pelo curto tempo de “atenção” que damos às coisas, pelas exigências das multi-tarefas, etc. Mas não é. Procurando em edições passadas da QST, descobri a seguinte pérola, do Editor-Chefe Kenneth B. Warner, no topo desta página em março de 1936: “ Uma das coisas mais tristes no mundo do rádio é um radioamador que não consegue ter uma conversa”. O tema persiste de várias formas nas décadas seguintes.

    
Há um tempo e lugar para tudo. Interromper uma rodada barulhenta dificilmente é a maneira de apresentar-se para um novo amigo em potencial. Momentos de baixa propagação requerem brevidade, e não muita conversa. Participantes de contests querem que você os chame, mas gostam que se mantenha no essencial. Algumas vezes barreiras de língua, sinais fracos, ou interferência limitam nossa habilidade de progredir além do contato básico.

    
Mas há outras vezes onde quebrar a fórmula “QSO” – reportar o sinal, localização, nome, equipamento, antena, e talvez o clima – pode resultar em dividendos. Algumas vezes sim, outras não, mas como muitas coisas na vida, o que você tira disso depende de quanto você está disposto a investir.

    
Onde começar? Emprestando mais algumas palavras imortais de Ken Warner, “Anote algumas coisas sobre as quais vai falar. Nós não precisamos fuçar dentro das almas uns dos outros, mas cada novo QSO oferece possibilidades de contato humano que transcendem a mera conversa sobre equipamento e condições do circuito. O primeiro passo para aprender a se conhecer pelo ar é estar preparado para fazer a sua parte da conversa, armando-se com alguns inícios de papo”. Ele sugeriu, por exemplo, idade, ocupação, o tamanho de sua cidade, número de filhos, e outros interesses.

    
Uma vez iniciada a “fórmula QSO”, as informações básicas do outro operador podem fornecer um “fio” em potencial para se continuar a conversação. Talvez você já tenha visitado a cidade ou estado dele, ou algum lugar perto. Talvez não, mas já pensou em fazê-lo e gostaria de algumas sugestões do que ver e o que fazer lá. Talvez você saiba de uma outra cidade com o mesmo nome em outro estado ou outro país.
    
Qualquer coisa que estabeleça algo em comum pode ser a base para uma conversa agradável que elevará o contato além de ser apenas mais um.

    
E se ele ou ela não corresponder? Não se preocupe. Pode haver muitas razões, que não tem nada a ver com você. Tudo o que você investiu foram alguns minutos do seu tempo e uma minúscula quantidade de eletricidade.

    
Na próxima vez que você estiver operando, pule a rodada na estação que você não precisa. Ao invés disso, sintonize alguém chamando CQ ou terminando um contato. Ou, ache uma freqüência clara e chame CQ você mesmo. Esteja preparado para dizer mais que “olá“ e “tchau”.

    
Pode ser o início de uma bonita amizade.

    
David Sumner, K1ZZ