11/Abril/2009 Histórico ARPA


Matéria publicada na revista Antenna Eletrônica Popular de Dezembro de 1990 (por António Maria, PY5AAT).

   

 

 

Radioamadores paranaenses realizam
"busca de transmissor oculto" — uma atividade divertida e de valioso
treinamento operacional.

 





FOTO 1 — "Time" na partida. Da esquerda para a direita: PY5GMS, PY5AMJ, PUSYSN, PY5NF, FY5TA, Jeferson, William, PY5TAT, PY5DF e PY5ANJ


Sempre tive na minha idiossincrasia radioamadorística que deveria experimentar de tudo que minhas possibilidades técnico-eçonômicas o permitissem.

Há tempos que venho lendo nos "books" capítulos especializados em Radiogoniometria. Assim sendo, sempre tive o desejo de participar de uma "Caça a Raposa" feita em princípios diferentes dos utilizados na Faixa do Cidadão, de que participei no final dos anos 70 e início dos 80.

A gota que faltava foi o artigo inicial sobre o assunto de K0OV na 73 Amateur Radio - Nov. 1988. De imediato levei a ideia à egrégia diretoria da Associação dos Radioamadores do Paraná — ARPA, que, na pessoa do seu Presidente Nelson, PY5NF, foi muito bem recebida.

Como em tudo que se tenta fazer no Brasil, as dificuldades aparecem e multiplicam-se em escala geométrica. Pensamos em fazer a "Caça a Raposa" na banda de 2 metros, não só pela sua popularidade, como, também, pela facilidade de confecção de antenas direcionais, "loops", etc, e grande disponibilidade de HTs com essímetro, o que seria mais complicado se fosse escolhida outra faixa.

Agora, as dificuldades:

1 — Confeccionar a "Raposa"
2 — Treinar os concorrentes
3 — Organizar
4 — Divulgar
5 — Realizar o evento.

1. A RAPOSA

Pensamos inicialmente em confeccionar um transmissor QRP a partir dos manuais RSEB/ARRL, etc., ou dos BCN usados nos Oscar 6 a 8.

Além das dificuldades de confecção dos circuitos ressonantes sem termos um laboratório à altura, ainda teríamos que importar os transistores finais que oscilariam nesta frequência.

Passou-nos pela ideia importar os "kits" que há nos E.U.A., quando surgiu PY5IO com a tábua da salvação. PY5IO encontrou na sucata de um navio, que havia sido desmanchado no porto de Antonina, um "beacon" de emergência VHF de fabricação norueguesa, para rádio-localização, operando em 121,5/243 MHz.

Encaminhamos o BCN para PU5WKE que trocou o XTAL para 145MHz, ressintonizou as bobinas e retirou o chaveamento para a frequência superior. Todavia, o transmissor tinha um "dual-gate" em curto e fomos socorridos por PY5BYE.

Eu tinha uma antena Tonel 5/8 para o carro que não utilizo frequentemente, e que serviu na medida para aumentar a potência efetiva irradiada. Passamos, então, à fase de testes de cobertura, onde contamos com a indispensável ajuda de PY5AMJ e PY5ANJ.

Resolvemos, então, esquecer a montagem do identificador telegráfico visto que até 100 mW a legislação não exige.

2. TREINAMENTO

Fizemos, então, vários treinamentos, sempre que se reuniam mais de dois radioamadores em bares, churrascos, festas, etc., assim como nas reuniões da ARPA.

Nesta parte, muitos de nós já tivemos no passado experiências nos 11 metros, o que de uma maneira geral ajuda.

3. ORGANIZAÇÃO

Escrevi ao articulista americano, informando-o das nossas pretensões e, pela volta do correio, recebi as informações solicitadas, bem como o "convite" a adquirir o livro do mesmo, que tratava do assunto de forma completa. (Coisa de americano: $$$).

Compilei os vários regulamentos recebidos e confeccionei um simples, sem grandes pretensões, cuja cópia segue ao final desta.

Escolhemos, então, a data do segundo final de semana de outubro, não só pelas condições climáticas de nossa cidade nesta época, como, também, por ser ante véspera do CQWW, quando tem mais tráfego nas repetidoras.

4. DIVULGAÇÃO

Emitimos um B.l. especial com um prolegômeno sobre o assunto, com o regulamento, e fizemos uma mala direta aos associados, bem como a divulgamos pela repetidora, pelo BBs e pelo corpo-a-corpo.

5. REALIZAÇÃO

Na manhã de 14 de outubro último nos reunimos, pouco mais de uma dezena de radioamadores, (Foto 1) no local da partida. Por ser sábado (falha nossa) muitos concorrentes se desculparam por motivos profissionais, viagens, etc.

As 09h55 o "beacon" foi ativado por PY5IO, a cerca de 1 000 metros do local, sobre uma guarita de segurança (Foto 2) de uma firma de equipamentos náuticos, onde PY5IO mantém uma oficina de manutenção eletrônica (náutica e radiotransmissão).

Procuramos não complicar muito o esconderijo, por ser a primeira vez em VHF e pelo alto preço dos combustíveis. Dois fatores que certamente causariam desmotivação.

Após 01h10min, e após percorrer 13 km, chegou à "toca" da "Raposa" PY5TAT, Luércio Turro, sagrando-se o campeão da 1a. Caca a Raposa. Ele trabalhou em dupla com o pai, PY5TA, ambos com larga experiência pregressa em eventos semelhantes na Faixa do Cidadão. Aliás, PY5TA é o atual presidente do PX Clube de Curitiba.

Cinco minutos mais tarde chegou o Jeferson em dupla com William, outros dois "experts" dos 11 metros, agora estudando a legislação para ingresso à classe C.

Nesse intervalo, estações participantes e não participantes davam instruções, trocavam idéias e especulações na repetidora, uns tentando ajudar e outros tentando confundir...

FOTO 2 — "Raposa" sobre a guarita, ligada a bateria do Fiat.
 

FOTO 3 — Entrega do troféu ao campeão pelo Presidente da ARPA. Da esquerda para a direita: PY5TA, Turra, pai do campeão PY5TAT, Luércio, e PY5NF, Nelson, presidente da ARPA
FOTO 4 —Entrega do troféu à dupla vice-campeã, Jeferson e William, operadores da Faixa do Cidadão recebendo das mãos do Presidente PY5NF (de boné)
 
FOTO 5 - Pessoal no local da "Raposa". Da esquerda para a direita: Pedro Stier, Jeferson, PY5TAT, PY5IO, PY5NF, PY5TA,
PY5VIC, PY5ARR e PY5SWR. Agachado, PY5DF
   

Ao mesmo tempo, "PY5AOJ & companhia" providenciavam um churrasco não muito longe dali.

Após a chegada de PY5VIC e exaurido o tempo da competição, nos deslocamos ao churrasco, onde foram entregues os trofeus (Fotos 3 e 4) e onde foi feita a confraternização com as estórias dos fracassos e dos sucessos.

6. CONCLUSÃO

Reconhecemos que a nossa "Caça à Raposa" em VHF não foi nada, se comparada àquelas realizadas no hemisfério Norte. Contudo, foi feita a primeira e esperamos que as diretorias subsequentes da ARPA patrocinem as futuras, com o objetivo não só de confraternização social, como, também, de aprimoramento técnico-operacional.

Além da aventura/desafio há de se considerar o adestramento em radiogoniometria, não só para ajuda à fiscalização na identificação de estações piratas, quando necessária, como, também, se solicitado pelos grupos de busca e salvamento.

7. AGRADECIMENTO

Além dos citados no escopo desta, quero agradecer a PY5SMB pelo processamento das fotos, a PY5AOJ pela doação do filme, e aos participantes diretos e indiretos, sem o que esta empreitada seria inexequível.

Muito obrigado a todos, e parabéns aos laureados.
Até a próxima!